CUIDADO COM AS SUAS PALAVRAS!

Marcos Pontes
23 /04/2008

Cena comum: uma mulher olha-se no espelho. Pára, aprecia, arruma o cabelo, vira, olha de novo, vira, arruma o cinto, coloca as mãos na cintura e diz irritada: “sua gorda! Você não tem jeito mesmo!”
O que está errado?

Ocorre que temos, em nossa mente, uma parte “consciente” e outra “subconsciente”. Controlamos a parte consciente. Contudo, a maior parte do nosso “processamento” acontece na parte subconsciente, que controla todas as funções “automáticas” e atende cegamente a tudo o que imaginamos na parte consciente. Isto é, quando pensamos em alguma coisa “com vontade”, associando emoções fortes ou frequentes a esses pensamentos, nós estamos, na realidade, comandando o subconsciente a transformar em realidade aquela idéia ou pensamento.

Em um processo normal de busca de metas temos uma primeira fase que se caracteriza pela sensação de necessidade: sentimos falta de alguma coisa, ou algo está diferente do que gostaríamos. Surgem emoções ruins, sentimentos de baixa auto-estima, etc. Porém, dessa fase surge também a ativação do sonho e uma pequena parte, inicial, da motivação para mudanças. Temos a vontade de mudar alguma coisa, como se tornar magra, no exemplo do espelho.

O problema é que a motivação para a mudança completa necessária para atingir aquele sonho só tem o seu começo, uma pequena parte, nessa fase. Mesmo assim, visto que foi sentida “a necessidade de mudança”, a grande maioria das pessoas acredita que manter-se em estado de “auto-flagelo”, por exemplo, chamando-se de gorda, incompetente, colocando fotos de pessoas obesas, ou dela mesma, na porta da geladeira, etc, irá ser capaz de gerar motivação para sair da zona de conforto e realizar tudo o que será necessário para ter sucesso naquela meta.

Como muitos já devem ter percebido, isso não funciona. Por quê?

Primeiro, porque nossa “zona de conforto” é como uma forte membrana elástica que nos envolve em nossos hábitos e que exerce grande pressão para retornarnos para o interior quando tentamos fazer algo novo, ou de maneira diferente.

Todos nós, seres humanos, temos medo de mudanças. Tendemos a ficar na nossa zona de conforto, mesmo quando as mudanças são claramente positivas.

Essa “noção de zona de conforto” é definida dentro do subconsciente e, até que exista uma mudança nesse nível, ele fará tudo para nos manter dentro dessa região de comportamento. Assim, somos sabotados por nós mesmos na tentativa de mudar. Já notou como inventamos as desculpas mais inteligentes para justificar “não mudar” ou “desistir” da mudança?

Segundo, porque usando apenas a motivação vinda das necessidades, ou da emoção negativa, típicas da fase inicial, sentimos apenas a vontade de mudar (convencemos o nosso consciente), mas não a vontade de “continuar a mudar” (não convencemos o nosso subconsciente).

Porém, essa é a maior parte do caminho para o objetivo! É dessa motivação que conseguimos extrair a persistência necessária para vencer os inevitáveis desafios e nos manter na direção do sucesso. Assim, apenas com a motivação rápida da “vontade de mudar”, mas sem a motivação longa necessária para “continuar a mudar”, nosso subconsciente nos trará infalivelmente de volta para a zona de conforto, e nenhuma mudança satisfatória acontecerá.

Então, o que fazer para ter a motivação de “continuar a mudar” e quebrar a barreira da zona de conforto?

A resposta é simples:

• o subconsciente é quem opera todos os processamentos longos e “automáticos” em sua mente, inclusive a definição de sua zona de conforto;

• o seu consciente imprime metas no seu subconsciente através de imagens de exemplo e palavras. O subconsciente executa exatamente o que foi pensado, sem distinguir entre ser aquilo bom ou ruim.

Portanto, toda vez que você pensa em alguma coisa com emoção, ou fala, ou escreve frequentemente essa mesma coisa, você está “imprimindo” aquela coisa (objetivo) no seu subconsciente, que agora, a cada segundo, durante dias, meses ou anos, passará a buscar todas as maneiras de realizar exatamente aquilo que você imaginou. Quando você olha no espelho, chama-se de gorda, e repete isso milhares de vezes, a todo instante, o resultado de longa duração é estar imprimindo esse objetivo no seu subconsciente: transformá-la em uma pessoa gorda! Justamente o contrário do que você queria! Lembre-se, o subconsciente não distingue se aquilo é bom ou ruim, só tenta realizar o que você imagina.

Esse mesmo raciocínio explica porque é muito bom orar e meditar!

Assim, ao invés de auto-flagelação, o caminho para ter motivação constante e realizar mudanças com sucesso é:

• Definir uma meta realista, com tempo definido, e mensurável. No exemplo do espelho, por exemplo, defina algo como: vou perder 2 quilos em 60 dias. Vou medir o meu peso uma vez por semana.

• Definir um plano de ação realista. Por exemplo: vou procurar um nutricionista, seguir uma dieta e frequentar a academia 3 vezes por semana, isso em detrimento de qualquer outra atividade.

• Visualize ardentemente a sua meta positiva, não as necessidades (negativas) que a geraram. Fale, escreva, represente, faça tudo para manter essa imagem de sucesso, onde você já está vivendo o seu sonho, em sua mente. Cole fotos de pessoas magras, ou melhor ainda, de você mesmo, quando tinha o peso ideal, na porta do refrigerador. Olhe no espelho e imagine sempre uma pessoa linda.

Repita para você mesmo, 50 vezes (sério): eu sou linda!

Você notará que, “como mágica” você começará a caminhar na direção dos seus objetivos e, a cada resultado positivo, terá ainda mais ânimo de continuar! Portanto: cuidado com suas palavras! Você sempre será o que você pensa e diz de você, seja isso bom, ou ruim!

 

Marcos Pontes
Colunista, professor e primeiro astronauta profissional lusófono a orbitar o planeta, de família humilde, começou como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP), para se tornar oficial aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA).
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